Resenha: Prazer, paniquenta - Lella Malta




Sinopse: Não tomo o assento do lado direito do avião, sobretudo se estiver vestindo algo na cor verde. Tenho as pernas sempre inquietas, que parecem balançar ao som de twist. Minha mente não para nunca, nunquinha. Ofegante, saio em disparada pela porta, pois também não suporto as multidões. Chorosa, abandono o carro no meio da rua, já que travo toda vez que dirijo na chuva. Conheço pelo nome os médicos do pronto socorro e sei muito bem o que é a CID 10. Hipocondria é comigo mesma. Tenho todos os sintomas (ou penso ter) de espondilite anquilosante, lúpus, doença de Crohn, artrite reumatoide, fibromialgia, doença celíaca, gastrite crônica, hipertensão, osteoporose, asma, sacroileíte e até gripe aviária (cof cof). Sou a doida chorando no teleférico do Big Buddha, gritando para sair da Monga, descendo de um banquinho com medo de quebrar o pescoço. Corro de qualquer abelha, pois acredito piamente ser alérgica e morro de medo de ter uma reação anafilática no caso de uma picada (trauma do Meu Primeiro Amor, eu sei). Temo o veneno na comida da rua, na comida da minha própria mãe. Acredito ter o dom para prever as maiores catástrofes do futuro, mas não trago nenhuma pessoa amada em três dias. Corro da missa se a leitura for Apocalipse. Não leio nada sobre Nibiru ou Nostradamus. Sei bem o risco que os asteroides representam e jamais serei do time que grita “Vem logo, meteoro!”. Tenho medo de dormir e não acordar. Também amo procurar os significados de cada sonho que tenho em sites duvidosos da internet. Tenho medo de enlouquecer, de ter uma nova crise a qualquer momento, em qualquer lugar. Tenho medo de morrer; medo até de viver. Tenho medo do medo de temer! Mas calma aí, sou muito mais do que isso, você vai ver. Primeiro, permita-me que eu me apresente: prazer, Paniquenta.

Resenha: "Prazer, paniquenta - Desventuras tragicômicas de uma ansiosa", de Lella Malta, é sem dúvidas, uma leitura marcante demais, por mais que tenha poucas páginas. Logo no começo, conhecemos um pouco a respeito de Mirella, ou apenas Lella ou Mi, de suas irmãs e pais também. O leitor tem a oportunidade de saber um pouco a respeito de seus gostos, de onde vive, sobre lugares, escritas, trabalhos e relacionados. 

Olha, coisas que temos em comum: em nome da minha sanidade mental, também adoro spoilers, seja de livros, séries ou filmes (isso é tão eu rs). Ah, eu também não sei nadar, mas não me envergonho disso não. E também evito procurar doenças no Dr. Google (se não, é ai mesmo que a gente surta de vez). E, compartilhamos a experiência do isolamento (apesar de dizer que a minha ansiedade não estava tão controlada não). Dias difíceis esses..

Outra coisa que eu gostei muito, na verdade é um exercício: escrever um agradecimento para alguém especial que mudou minha vida. A autora revela ser libertador e eu acredito ser mesmo, por isso chamou tanto a minha atenção. Agradecer sempre será necessário e ao mesmo tempo algo especial demais. Gratidão nas pequenas e grandes coisas ao longo de nossos dias! ("...saúde mental é mais do que ausência de transtornos mentais").

Enfim, a partir disso, somos cercados de reflexões, das mais leves às mais intensas. A autora possui uma escrita tão acolhedora, que é capaz de fazer com que a gente se sinta muito a vontade. É capaz de fazer com que as palavras nos cerquem por completo e que nos traga acalento, de alguma maneira.

Como esperado, há a identificação sutil sobre emoções, medos - comuns e até os mais incomuns, e conceitos. Conceitos esses que nos prendem por completo na narrativa. Lella fala a respeito de construções - do seu eu do passado e do presente e de seus tantos ciclos compreendidos e até os incompreendidos.

E então, ela foi diagnosticada com Transtorno de Ansiedade Generalizada , aos dezenove anos de idade. Para mim, foi uma leitura que se tornou extremamente válida, por ter alguém por perto que possui esse mesmo transtorno. Não é mesmo frescura ou drama, isso não há dúvida alguma, assim como não é um comportamento para chamar a atenção. É questão de saber lidar, e de aprender a conviver com a ansiedade. E deixo aqui uma citação dela: "Que nossas dores não sejam mudas."

Preciso dizer que me envolvi demais lendo sobre seus receios e suas obsessões, até dos sonhos que tem, de ser abduzida por extraterrestres ou até pelo sentido de seu cachorro, rs. Fiquei ainda mais intrigada ao ler sobre seu problema com a comida ou pelo simples fato de fazer um exame de sangue. Mas como ela mesmo afirma "Medo é o nome que damos à nossa incerteza". 

Uma parte interessante e que preciso compartilhar por aqui: a questão de ter um animal de estimação:  que, de acordo com pesquisas, conseguem neutralizar sintomas de depressão e ansiedade. É algo certeiro mesmo e eu digo por experiência de alguém muito próximo de mim.

Sua escrita sobre esse sentimento do medo (e de seu sofrimento) é como um tapa na cara, de tão forte e real. Digo isso, porque de fato, ansiedade e medo, caminham lado a lado. De acordo com o texto: "A mente coexiste em um corpo físico que representa concretamente todas as possibilidades que ela tem".

Esta é uma exposição íntima, corajosa e verdadeira, o que fez toda a diferença. Enfrentar os temores e viver um dia de cada vez: esse é o objetivo. Dicas de como enfrentar uma crise do pânico Poderia escrever muito mais a respeito dessa obra (e trazer muitas outras citações), mas de fato, é bem mais legal ler ele e ter suas próprias reflexões (e identificações).

Classificação: 4/5 

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