Sinopse: Na fazenda Búfalo Celestial, dona Clara enfrenta as adversidades de uma gravidez tardia. Quando um desejo insaciável e inusitado toma conta de seus pensamentos, ela pede a João que busque os olhos de Afonsinho, um dos melhores búfalos de sua criação. Mesmo sabendo que o búfalo escolhido se trata do animal de estimação de Afonso, seu patrão, o capataz consegue o ingrediente principal para a sopa da patroa. Assolado com a notícia, Afonso recorre a Enarê, o poderoso xamã de uma aldeia indígena, exigindo o pagamento de uma dívida antiga. É então que Rosa Vermelha, uma cidade que costumava ser pacata, vira palco de eventos estranhos. E seus habitantes, pessoas com características tão diferentes, terão de encarar seus medos para investigar as criaturas misteriosas que começam a surgir se quiserem voltar a viver em paz em seus lares.
Resenha: "A canção da lamúria", do autor nacional Bruno Lima, apresenta uma trama diferente de tudo que imaginei quando iniciei a leitura. É um enredo cheio de detalhes curiosos e ao mesmo tempo intrigantes, ainda mais diante de personagens tão bem desenvolvidos neste contexto. Também há mensagens bem relevantes nas entrelinhas, e é fácil entender bem os pontos centrais que foram abordados.
Em primeiro lugar, é necessário ressaltar que o folclore brasileiro serviu de inspiração para essa história tão criativa e impressionante, como o Auto do boi, Rasga-mortalha, Mapinguari, e a mula sem cabeça. Logo nas primeiras páginas, surgem alguns questionamentos sobre o desenvolvimento das cenas, bem como as escolhas feitas. E é ótimo poder compreender bem os personagens, já que os capítulos são alternados entre eles, e isso faz toda a diferença neste contexto.
Ao longo dessas páginas, o leitor tem a oportunidade de conhecer a fazenda Búfalo Celestial. Nela, João enfrenta um dilema quando sua patroa, Clara, o chama com um desejo inusitado. Ela, estando grávida, e já sabemos que uma mulher nessa fase pode ter seus desejos inexplicáveis, lhe fez o pedido de uma sopa de olho de búfalo. O marido, Afonso, não estava por perto, então ele seria o encarregado a lhe conceder o mesmo.
O pior é que a senhora não desejou os olhos de um simples búfalo qualquer, mas o de "Afonsinho", ou seja o que era considerado mais especial para Afonso - o marido de Clara. Que situação mais desagradável, heim? Pelas expressões na narrativa de João, fica claro o quanto tudo isso é constrangedor, e que as consequências de tal ato não seriam positivas. Mas enfim né.. ela não estava lhe pedindo um favor, e sim mandando, já que também era a patroa dele. Então, sem discussões: ordens são ordens, e assim se tornou fatal ao grande animal!
"O barulho do tiro pareceu um trovão. (...)
Estranhamente soava como alguém gritando." Pg.11
Quando o dono do búfalo chegou e descobriu, é claro que ficou desolado; em luto. Logo, Afonso tratou de seguir para a floresta, junto de João para falar com um xamã. Sua intensão era consertar as coisas. Ele queria que o que lhe foi prometido - a canção de lamúria. Porém, xamã deixou bem claro que as consequências para tal canção poderiam ser dor e lamentação.
"O desespero levara-o a tomar medidas desesperadas,mesmo sem saber no que isso implicaria posteriormente." Pg. 34
Então, é assim que o leitor começa a seguir o rumo dos acontecimentos diante de duas famílias próximas. Cada um expondo seus medos principais sobre tudo que estava ocorrendo aos seus olhos. Como explicar as coisas que estavam ocorrendo? E é claro que o medo é um dos principais elementos que rodeiam essas figuras.
Essa é uma leitura extremamente ágil diante de acontecimentos tão instigantes, afinal de contas, os acontecimentos são expostos de forma bem dinâmica. O autor está de parabéns por conseguir expor uma imaginação rica em características muito especiais.
"-Eu tava pensando no que Enarê falou. De como as maldições só acabam quando sacrificamos algo." Pg. 171
Classificação: 4/5
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