Resenha: O diário de Ayron - Wanderson Dutch, Editora Uiclap

 Sobre o livro:




Sinopse: Ayron Schneider é um jovem estudante do curso de psicotecnologia (ciência que estuda o aspecto psicológico da inteligência artificial dos robôs) em uma renomada universidade particular de São Paulo. Nasceu em berço de ouro no bairro de Alto de Pinheiros, porém, para ele é difícil aceitar as relações comerciais de seus pais, principalmente os seus interesses sociais, que na visão dele são alicerçados na velha ética egocêntrica que só beneficia indivíduos específicos. Os subjugados, isto é, o povo, continuam sendo designados simplesmente à escravidão e à prestação de serviços subalternos. Em 2043, o mundo passa a viver o início de um novo período de reorganização em suas instituições públicas e privadas, isso por meio das inovações robóticas na convivência entre os humanos. Há máquinas super avançadas para quase tudo, até para atendimento das satisfações sexuais. Para quem tem poder financeiro, morrer não é mais um problema desesperador, a técnica promete o caminho para a imortalidade desejada. Em meio às conformidades e barbaridades sociais, Ayron levanta-se contra tudo e contra todos, destacando- se como uma figura notável de sua época, contudo, um anti-herói, ou seja, aquele que não pretende apresentar fórmulas engessadas para a sociedade seguir. Predestinado tal como um estraga prazeres, o acusador que expõe as provas, o sujeito que só veio para acabar com a vida forjada que a humanidade criou para si e que, por sua vez, acarretou no aprisionamento de milhões de pessoas à ilusão; aquele que rasga mais uma vez o véu de mentiras da sociedade envenenada por sua sede de querer dominar e fazer escravos inteligentes a qualquer custo. Ayron percebe que nessa sociedade ninguém realmente é o que demonstra ser, logo, a dúvida da existência dos outros, e de sua própria existência, passa a ser pauta de uma reflexão bem profunda, que o levará a tomar decisões que irão chocar qualquer pessoa. É preciso cavar bem fundo quando se pretende encontrar a verdade. Questione até a sua existência, não confie em ninguém. A vida precisa ser levada na base dos interesses pessoais e na desconfiança. Quem confia em demasia, pode receber com frequência beijos amargos de decepção. Para sobreviver à putrefação social é preciso ficar alerta a todo tempo. O ser humano é um animal muito sagaz, com hábitos instintivos desprezíveis, os quais, por vezes, atropelam o mais fraco facilmente. Alguns matam para poder ter melhor posição socioeconômica, outros simplesmente interpretam um papel angelical, e ainda existem os sociopatas, hostis e excessiva- mente cruéis. Há quem enxergue maldade nos demônios, porém, eu a vejo nas pessoas… É tempo de incertezas nas relações humanas, portanto, cuide- se.

Resenha: "O diário de Ayron", do autor nacional Wanderson Dutch (Editora Uiclap), apresenta uma leitura intrigante sobre tudo que é compreendido ao longo dessas páginas. Há muitas mensagens curiosas e que podem refletir em nossa própria realidade, então se torna uma leitura ainda mais relevante por conta disso.

"Há quem enxergue maldade nos demônios, porém eu a vejo nas pessoas."

O jovem Ayron Schneider se destaca demais nessa ambientação dinâmica e um tanto quanto duvidosa. Ele é um personagem expressivo, questionador e faz com que o leitor analise todo o sistema responsável - direta e indiretamente - e consequentemente as causas, os resultados, acompanhamentos, justificativas, planos de ação e relacionados.


"A tecnologia avança a passos largos, com novos sistemas robóticos que estão conectados à vida das pessoas de maneira absurda. Os humanos poderosos, donos do capital, agem como deuses. Eles criam e recriam muitas coisas que impactam o convívio social livremente, não há moral em suas condutas, apenas desejo de dominação."

Vale destacar que esse enredo tem elementos futuristas, ousando ainda mais o desenvolvimento em tal condição, fazendo com que tudo se torne ainda mais crítico, objetivo e ao mesmo tempo envolvente. E claro que, por envolver a tecnologia, envolve muitos outros detalhes que intrigam ainda mais nesse cenário que expõe pessoas poderosas, ambiciosas e individualistas. Qual é a real conexão no meio de tanta tecnologia super avançada?

"Não existe relação social. Existe interesse social, aqui você só tem valor se você for dono de alguma empresa multimilionária."

É um livro que se divide em três partes muito bem situadas neste processo, e ainda apresenta textos curtos do autor. Diante das analises sobre a evolução humana, obstáculos e possibilidades, surgem contextos que exploram bem a respeito de todas as alterações vivenciadas nesse trajeto marcante. 

De fato, acredito mesmo que essa obra se destaca por conta da identificação das causas e interesses sociais nas reflexões compreendidas. Gostei muito de conhecer o trabalho do autor e da forma como ele aborda as temáticas.

Classificação: 4/5

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