Resenha: A memória da árvore - Tina Vallès, Editora Leya

 Sobre o livro:




Sinopse: Um romance delicado e sensível que fala de como as memórias se formam e nos formam. Quando o menino Jan recebe de seus pais a notícia de que os avós vêm morar definitivamente com eles a partir daquele dia, a primeira pergunta que lhe vem à cabeça é: “Posso ficar feliz?”. Há algo no semblante dos pais que o menino Jan ainda não consegue discernir, mas que sente vividamente. Algo que lhe diz que a vinda dos avós não é motivo de alegria, mesmo com os jantares deliciosos que a avó vai preparar para toda a família e mesmo com os aguardados e inesquecíveis passeios na volta da escola, junto com o avô, quando eles conversam sobre as ruas, sobre a família, sobre a vida e sobre as árvores. A mudança vai alterar toda a vida cotidiana da família, e Jan vai percebendo outros sinais a princípio indecifráveis, mas que, aos poucos, se farão entender: a sua fome voraz de menino de dez anos que se transforma em falta de apetite, o perfume característico e adocicado da avó que se torna um cheiro azedo e os olhos de todos que, de repente, parecem de vidro e sem vida. Na casa, agora, as palavras e os silêncios ganham novas nuances. Enquanto os adultos fazem o possível para que tudo corra como de costume, Jan observa os detalhes ao seu redor e os reúne para entender o que está acontecendo. As conversas entre avô e neto, com perguntas sem respostas e respostas sem perguntas, constroem um mosaico de cenas por onde avança a relação dos dois, cujo fio condutor será a história de um salgueiro-chorão. A memória da árvore é um romance que consegue, ao mesmo tempo, nos colocar no lugar de uma criança e dos adultos à sua volta, todos confrontados com acontecimentos inesperados, e que fala da transmissão de memórias, de como elas se formam e de como podem se perder.

Resenha: A memória da árvore, de Tina Vallès (Editora Leya) é um romance maravilhoso, especialmente ao compreender a relação de um avó com o seu neto. Diria que é até impossível não se emocionar no decorrer destas páginas, ainda mais por conta de todos os sentimentos que são compreendidos.

Leitura leve, rápida e ao mesmo tempo marcante demais. Pode ser lido em poucas horas por conta da narrativa ser tão  objetiva, por mais que seja igualmente delicada. É incrível poder acompanhar as percepções de um menino sobre tudo que acontece ao seu redor e com as pessoas que se fazem importante para ele.

A construção do texto gira em torno das memórias desde que os avós foram morar com o menino. O relacionamento se forma com lembranças sutis, e que garantem expressões que devem ser carregadas para o resto da vida. 

E é certo que Jan gosta de fazer perguntas mesmo. Os pequenos são curiosos, e é isso que os motiva a serem tão perspicazes em suas avaliações. Na verdade, é a evolução para as memórias que se seguem. E esse título sabe muito bem como fazer tais retratações.

" - Vovô, o que foi que você viu?
- Estou só olhando. A gente não precisa ver nada.
E o rosto dele me diz que eu tenho que gravar aquela frase, que é para eu ficar quieto agora, olhar para cima e esperar, porque estou fabricando uma lembrança nesse exato momento."

Livros que exploram a visão e questionamentos envoltos por uma criança sempre são especiais demais, e não seria nem um pouco diferente nesse título. Sua narrativa doce e ingênua carrega muitos outros traços peculiares. Por isso mesmo que a memória se faz tão importante.

"Meu pai me olhou e eu soube que ele iria me contar, que seria muito difícil para ele, mas por fim iria me dizer o que estava acontecendo, que responderia a todas as minhas perguntas, por que meus avós estavam morando conosco, por que a vovó e a mamãe ficam tão nervosas quando o vovô faz alguma bobagem ou esquece alguma coisa, por que de repente todos ficam cinza e com os olhos vidrados, por que fui o único que ficou feliz quando o vovô e a vovó vieram morar com a gente. Mas sei também que, depois que tiver todas essas respostas, vou ficar cinza e com os olhos de vidro."

Trechos como esse acima só demonstram a imensidão de sentimentos que há nesse livro. Assim, os laços são construídos de uma forma sensível, e capazes de causar impactos profundos até mesmo em quem está lendo tal obra. Muitas perguntas e mais lições envolvidas também. 

Classificação: 4/5

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