Resenha: Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres - Clarice Lispector, Editora Rocco

 Sobre o livro:




Sinopse: "O coração tem que se apresentar diante do Nada sozinho e sozinho bater em silêncio de uma taquicardia nas trevas." A experiência da protagonista desta aprendizagem mostra afinidades tanto com as provações da bela Psiquê, do mito grego, quanto com a mística aventura da alma, ao atravessar a noite escura no Cântico Espiritual de São João da Cruz. Como um quadro cujas linhas mestras o recortassem do grande mistério que tudo contém, este livro, que "se pediu uma liberdade maior", é a narrativa de uma iniciação e um extraordinário hino ao amor. Lóri, a mulher, faz uma longa viagem ao mais profundo de si mesma e chega à consciência total de ser. Diz: eu é; o homem, Ulisses, um professor de filosofia, que possui fórmulas para explicar o mundo, transforma-se em algo mais simples, um simples homem. Ambos serão iniciados: Ulisses fecha os ouvidos para as outras sereias porque só está disponível para Lóri, cujo verdadeiro nome é Loreley, como a personagem de Heine e de Apollinaire, uma ondina ou sereia que costumava atrair para os rochedos os barqueiros do Reno. Na verdade, cada um vai encontrar-se consigo mesmo em face do outro. Por ser trabalho, ascese, viagem, o amor de Lóri e Ulisses vence a diferença, o estranhamento, vence até mesmo a morte, ou o medo da morte. E a entrega finalmente física dos personagens se realiza com força tântrica de êxtase, de epifania. Para Lóri, "a atmosfera era de milagre"; Ulisses "estava sofrendo de vida e de amor". Nada termina, porém, o momento anuncia uma nova aurora: "Ambos estavam pálidos e ambos se acharam belos." Clarice, que se insere sabiamente no possível, fecha com dois pontos a narrativa que começara com uma vírgula.

Resenha: Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, de Clarice Lispector (Editora Rocco) expõe uma obra inteligente, fascinante, sensível e profunda diante de tantas reflexões compreendidas nesta narrativa. Esta obra inspirou o filme "O livro dos prazeres" dirigido por Marcela Lordy.

Difícil não se envolver na narrativa de Clarice Lispector, ainda mais por conta de seu poder de envolvimento com as palavras, em meio a todos os detalhes, personagens, emoções e afins. Um texto cercado por sensações, que pode começar de forma confusa, mas aos poucos vai ganhando uma força sensacional em todas as percepções feitas.

Nesse contexto, o leitor tem a oportunidade de compreender mais a respeito do que Loreley pensa e de todos os questionamentos que a envolvem. É um processo de autoconhecimento, não há dúvidas disso.

Quem vê de fora, pode pensar que não há muito a ser analisado, porém é ai que a autora se destaca. Ela consegue trabalhar o simples e moldá-lo para que se torne expressivo demais. Na verdade, essa não é, nem de longe, uma trama simples, e é preciso ter clareza disso, antes de quaisquer interpretações.

A personagem passa por muitas descobertas e um relacionamento novo abre as portas para muitos momentos intricados, em especial por entrar na consciência de uma pessoa como Lóri e até mesmo de Ulisses. A conexão e a busca pelo amor são mais abrangentes do que se supõe, afinal de contas.

É sobre aprendizados e especialmente a respeito da sua existência, mas até quem sabe sobre a nossa própria. E porque não?! Quem diz que não é possível se identificar por aqui? A autora tem mesmo o dom de mexer com as emoções mais intimas de quem a lê.

Classificação: 4/5

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